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sábado, 13 de dezembro de 2008

CAPITULO FINAL

Ainda sinto o gosto da carne de capivara, que os antigos caçavam no Rio Cubatão, no tempo em que o Rio nos dava robalos..
Naquele tempo, no Rio Casqueiro, qualquer pessoa conseguia pescar tainhas...
Na Cuba-de-Então, existiam os papagaios bancários... na Cubatão de hoje, há os agiotas...
Na Cubatão de ontem, se pedia a benção ao pai... hoje, se pede a chave do carro ao coroa...
Na Cubatão de antigamente, Armando Campinas Reis Júnior era um pirralho, e nem sonhava em ser genro do Dudu, ou neto, por casamento, do Abel Tenório de Oliveira...
Na Cubatão de meu passado, Seu Caxulo vendia peixes de porta em porta...
Naquele tempo, Doralice Lopes sabia dançar frevo e tocar violão como ninguém, e a Elza Nogueira Campinas, era evangélica de carteirinha...
Vivi meu tempo no tempo certo...
No tempo em que a vida correu, vivi em liberdade...
Sonhei... Acordei...
Não mais me será possível ver o sorriso do Ricardinho, contando histórias pra a vó Maria...
Não mais tenho por perto, meu parceiro de tranca, o Neco Campina, que já está num mundo melhor...
Meu pai, só consigo ver num velho retrato, com moldura prateada, colocada em destaque na estante da minha sala...
Minha vó Joana, que ninguém conhecia, a não ser por Maria Campinas, já foi se encontrar com "Papai-do-céu", e deve estar começando já a olhar por nós, seus filhos, que ficamos nesse mundo dos homens, nem sempre honesto, nem sempre digno, mas o mundo que construímos...
O velho Neco, já deve ter montado uma mesinha pro jogo de "tranca" e convidado seu velho parceiro, o Arlindo Lopes, para umas horinhas de diversão sadia, regada a bom papo e a bom vinho "Sangue de Boi"...
Ricardo Campinas, nosso Ricardinho, já deve ter se acostumado com o novo lar, e por certo, a essa hora, está em bons papos com "Vó Maria", recordando o tempo dos antigamentes, histórias que somente minha saudosa vó, sabia recordar...
Um dia, quem sabe, lá nos encontraremos todos, e poderemos fazer uma grande festa, com baile até de madrugada...
... Sei que um dia isso poderá acontecer realmente, mas no hoje, dói... dói muito a saudade dos que estão do lado de lá, velando por nós...
Gostaria que fosse possível, mas não é...
...Não me é mais possível olhar para o final da rua São Paulo, e ver, ao longe, o velho Manoel Campinas, voltando do porto de areia, com seu inseparável cão, o Pitoco, alegremente abanando o rabo do seu lado...
A lembrança dos dias bons, dói na gente, como doem, as lembranças dos bons amigos...
Longe da minha terra como estou agora, me vem a saudade não do ontem, mas do antigamente, quando se dormia com janela aberta, na Cuba-de-Então, que não volta mais...
Cada momento de recordação, faz chegar aos olhos a lágrima sentida, que se faz presente sem convite algum...
O passado....
Este não retorna!... Por mais que se queira fazê-lo chegar mais perto, ele permanece distante...
Distante no tempo...
Perto, nas recordações...
Mas as solitárias recordações não são suficientes para que possamos satisfazer por completo, a ânsia de revermos os amigos que se foram ou vivermos os momentos, que já estão distantes...
Cada momento, é uma história...
Cada história, é um pedaço de nosso viver...
O tempo apaga tudo, mas não apaga a memória, o recordar brejeiro, como o cair do sol, por detrás da velha Serra do Mar, em tarde de brisa suave...
Dizem que aquele que recorda, revive momento a momento, e não deixa morrer a lembrança...
Deus queira que seja assim,. pois não quero ver morrer em minha memória os momentos de minha meninice, passada ao lado dos meus, com liberdade e confiança no amanhã.
Dói no peito sim, o ato de recordar, mas a dor doída é tão gratificante, que nem chega a ser dor... é mais uma coisa qualquer, que faz o coração ficar como que pequenininho, e a mente viajar para o tempo do ontem, quando o amanhã era o ontem, e o hoje, nem sonhava em existir, e estavam todos lá, José Rodrigues Lopes; Antônio Simões de Almeida; Armando Cunha; Manoel Campinas; Seu Carvalho; Seu Abílio Lopes; Affonso Schmidt e tantos outros, que escreveram o nome de nossa terra, e lhe deram a estrutura que hoje ela possui...
Parece que, com a memória, com o recordar, viajamos no espaço e desembarcamos neste tempo, quando Cubatão era Cuba-de-Então, um lugar bem diferente da cidade, que hoje conhecemos...
Na minha memória, a Nêga aplicava injeção doída, e ainda não representava o povo, na Câmara Municipal...
O tempo passa... com a velocidade do vento noroeste...
CUBA-DE- ENTÃO...
Passou Também....


Carlos Alberto Lopes

Um comentário:

  1. Olá amigo, conterrâneo e quase chará, Confesso que fiquei maravilhado com os relatos aqui apresentados por você. _ Parabéns pelo blog, pelo trabalho! -- Nasci em Cubatão de ontem- então. Mas pude me deliciar com muitas coisas que conheci, e que você muito bem cololocou aqui.

    Tenho umas páginas sobre a minha vida em Cubatão, contando também coisas públicas da década de 1950, até 1970, são uma espécie de memória,quando enfim, me mudei para São Bernardo do Campo.

    Meu Nome: José Alberto Lopes -- Meu endereço de email é : vanadio_1@yahoo.com.br

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